A música nordestina perdeu uma de suas vozes mais autênticas em 2020, mas o legado de Edgar do Acordeon permanece vivo nas festas juninas, nas rádios e na memória afetiva de Sergipe. Natural de Malhada dos Bois, Edgar — cujo nome de batismo era José Edigar da Silva — foi um dos maiores representantes do forró pé de serra no estado, com uma carreira que atravessou mais de cinco décadas.

Uma vida dedicada à música e à cultura popular

Edgar começou sua trajetória musical em 1964, tocando de ouvido e dominando diversos instrumentos, como triângulo, zabumba, cavaquinho e violão. Mas foi o acordeon que se tornou sua marca registrada. Em 1967, ingressou na Ordem dos Músicos do Brasil e, ao longo dos anos, acumulou prêmios, homenagens e mais de 100 composições autorais.

Inspirado por Luiz Gonzaga, Edgar interpretava com paixão os clássicos do Rei do Baião, além de criar músicas que falavam sobre o meio ambiente, juventude e questões sociais. Sua voz, forte e expressiva, era frequentemente comparada à de Gonzaga, e sua presença nos palcos sempre arrancava aplausos calorosos.

O forrozeiro sergipano Edgar do Acordeon não apenas marcou a música nordestina com sua voz e composições, mas também deixou sua assinatura em um dos projetos culturais mais importantes de Sergipe: a Orquestra Sanfônica de Aracaju. Integrante desde a fundação do grupo, Edgar levou sua experiência e paixão pelo forró pé de serra para os palcos sinfônicos, ajudando a unir tradição e inovação musical.

Com sua sanfona afinada e sua voz marcante, Edgar participou de apresentações memoráveis, levando o som do sertão para teatros, praças e eventos culturais. Sua atuação ajudou a consolidar a Orquestra Sanfônica como referência nacional, e inspirou jovens músicos a seguirem o caminho da música de raiz.

Atuação em rádio, TV e festivais

Além dos palcos, Edgar brilhou no rádio e na televisão. Apresentou o programa “A Voz do Nordeste” na Rádio Difusora de Sergipe nos anos 1970, participou do “Forró no Asfalto” com Clemilda na TV Aperipê, e comandou o “Forrozão da Atalaia” por quase uma década. Em 2002, venceu o Festival de Sanfoneiros Pé de Serra com a música Um pouco de Aracaju, recebendo o troféu Gerson Filho.

Reconhecimento e legado

Em 2014, Edgar foi agraciado com o título de Cidadão Aracajuano, reconhecimento por sua contribuição à cultura local. Participou da Orquestra Sanfônica de Aracaju desde sua fundação, e chegou a se apresentar no programa Altas Horas, da Rede Globo — um dos momentos mais marcantes de sua carreira.

Infelizmente, Edgar faleceu em 30 de junho de 2020, aos 73 anos, vítima da Covid-19. Sua partida foi sentida por toda a comunidade artística e cultural de Sergipe, que reconhece nele um símbolo da música nordestina e um guardião da tradição popular.

Ascom CASACA DE COURO